terça-feira, 30 de julho de 2013

Encerramento Ver-Sus edição inverno 2013

Com o intuito de capacitar futuros profissionais da saúde com um olhar diferenciado para as necessidades de cada pessoa, iniciou-se a edição do Ver-Sus do inverno de 2013. De modo a contextualizar o direito à saúde para todos e incentivar melhorias no SUS, onde cada participante é uma peça fundamental, estudantes da saúde têm a oportunidade de vivenciar, de outro ângulo, a oferta de serviços no SUS, sendo capazes de ter uma compreensão dos desafios e das potencialidades para garantir uma saúde de qualidade para as pessoas.

Outro aspecto interessante, é a concentração de estudantes de diferentes segmentos da saúde, sendo possível trabalhar com a multidisciplinaridade, com cada integrante contribuindo com seus conhecimentos, juntando, assim, todas as peças necessárias para montar o grande quebra-cabeça de um SUS melhor. Talvez o que seja tratado como melhoria na saúde seja algo utópico, que estes versusianos trazem como potencialidades de melhorias, mas sonhos podem se tornar realidade. Cada estudante, futuro profissional, abdicou de suas férias do meio do ano para estagiar no SUS, saindo do mundo teórico das salas de aula e colocando em prática seus estudos para analisar os fluxos de trabalhos.

O que o SUS pode ganhar com estes futuros profissionais viventes do SUS?
Profissionais preparados para compreender o estado humano, em que cada pessoa tem o seu contexto de vida, o que, nas palavras de um dos viventes, seria um ato de cidadania. O Ver-Sus possibilita, além da oportunidade de formar laços de amizade, a oportunidade dos estudantes visitarem serviços de saúde em Porto Alegre - nas suas 8 regiões - e na região metropolitana, nos municípios de Canoas, Novo Hamburgo, Osório/Tramandaí, São Leopoldo e Gravataí. Equipes são montadas com dois facilitadores e aproximadamente dez estudantes. Os estudantes e facilitadores ficam imersos na cidade designada para o grupo convivendo e participando de atividades. Durante a vivência, o estudante faz um diário individual e um relatório final como grande grupo, os gestores têm uma devolutiva mostrando as vivências e apontando potencialidades para o processo de trabalho no município.

Nessa edição, os estágios começaram no dia 19 de Julho, e hoje dia 30 de julho, o dia em que estive presente no encerramento, não pude deixar de notar a união e a amizade com que os trabalhos foram realizados. É interessante saber que todas as equipes e suas respectivas cidades fazem trocas do que vivenciaram, formando, assim, um agregado de conhecimentos, com muito aconchego e calor humano. Pessoas diferentes reunidas no mesmo espaço, percepções construídas/desconstruídas e afetividade trocadas por pessoas que até então eram desconhecidas.

Para mim, a emoção da despedida que presenciei é só a ponta do iceberg, pois ali pude ver e sonhar com profissionais capacitados a se doar para o próximo em uma oportunidade na qual é possível trazer para a realidade um sistema de saúde universal cumprindo com seus objetivos.

Abaixo o depoimento de Bruna Pedroso, integrante do Elos Coletivo, um dos organizadores do evento, na qual ela descreve o significado do Ver-SUS:
Ver-Sus para o coletivo foi uma porta de entrada, um despertador foi uma coisa que dá o click, pela aproximação, pela imersão, porque o primeiro ver-sus que participei foi no verão de 2012 que a gente dizia, fácil é participar do big brother quero ver é participar do ver-sus! Porque é um choque, a pessoa com uma bagagem, com uma trajetória no meio de monte de gente que não conhece, com realidades diferentes e ninguém sabe o que pode produzir. Então é uma ebulição interna que só pode acontecer ao extrapolar em choro, em raiva ou em silêncio, porque a gente não sabe o que vai fazer mas de qualquer forma resultou em alguma coisa e a gente espera que a longo prazo esse resultado seja qualificação dos processos humanos de saúde, o fortalecimento do movimento estudantil, algumas coisas já temos visto na formação do Elos Coletivo. Ver-sus é  um projeto muito positivo que cumpre os objetivos ao qual ele se propõe, de aproximar os estudantes dessa realidade, que não é trazida na academia, de criar vínculos, esses vínculos vão ser levados quando estivermos na rede atuando.”

Para saber mais sobre o Ver-Sus Porto Alegre e Região Metropolitana acesse o link do Elos Coletivo:

Para acessar os relatórios dessa galera acesse o site da Otics, onde é possível fazer sua inscrição e também acompanhar o Ver-Sus em outras regiões do Rio Grande do Sul e do Brasil:
http://versus.otics.org.br/vivencias/inverno-2013/rio-grande-do-sul


Escrito por Fernanda Cardoso e Mariana Martins. 

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Programa mais médicos e aumento do tempo da graduação em medicina

Na última segunda- feira, dia 8 de julho, o Governo Federal lançou o programa Mais Médicos que ampliará a presença destes profissionais em regiões carentes. Instituído por medida provisória assinada pela Presidenta da República, Dilma Rousseff, e regulamentado por portaria conjunta dos ministérios da Saúde e da Educação, o programa ofertará bolsa federal de R$ 10 mil a médicos que atuarão na atenção básica da rede pública de saúde, sob a supervisão de instituições públicas de ensino.

Será aceita a participação de médicos formados no Brasil e também a de graduados em outros países, que somente serão chamados a ocupar os postos não preenchidos pelos brasileiros. Dentro deste grupo, a prioridade será para os brasileiros que fizeram faculdade no exterior. Poderão participar estrangeiros egressos de faculdades de Medicina com tempo de formação equivalente ao brasileiro, com conhecimentos em Língua Portuguesa, com autorização para livre exercício da Medicina em seu país de origem e vindos de países onde a proporção de médicos para cada grupo de mil habitantes é superior à brasileira, hoje de 1,8 médicos/1 mil habitantes. Todos os profissionais vindos de outros países cursarão especialização em Atenção Básica e serão acompanhados por uma instituição de ensino.

A quantidade de vagas disponíveis só será conhecida a partir da demanda apresentada pelos municípios. Todas as prefeituras poderão se inscrever no programa, mas o foco recai sobre 1.582 áreas prioritárias, em municípios de grande vulnerabilidade sendo 1.290 municípios de alta vulnerabilidade social, 201 cidades de regiões metropolitanas, 66 cidades com mais de 80 mil habitantes de baixa receita pública per capita e 25 distritos de saúde indígena.

O Programa Mais Médicos também institui que, os alunos que ingressarem nos cursos de Medicina, tanto em faculdades públicas quanto privadas, a partir de janeiro de 2015 terão novo período de formação, com a inclusão de um ciclo de dois anos para atuação na atenção básica e nos serviços de urgência e emergência da rede pública de saúde. 

Sobre a inclusão de um novo ciclo no curso de medicina, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, ressalta que outros países fizeram essa mudança e passaram a ofertar estágio remunerado depois da formação. “É uma forma de aprimorar a formação do profissional. Um médico, antes de mais nada, tem de ser especialista em gente. Daremos oportunidade deles atuarem junto à população e desenvolverem habilidade no cuidado integral das pessoas. E isso terá um impacto muito importante na saúde brasileira”, afirma Padilha. “Essa adaptação da graduação permitirá uma formação mais humanizada e voltada à realidade. Os estudantes vão terminar a sua formação trabalhando no SUS, com direito a bolsa e contribuindo com o povo brasileiro”, destacou o ministro da Educação, Aloizio Mercadante.

O modelo da nova grade curricular é inspirado em países como Inglaterra e Suécia, onde os alunos precisam passar por um período de treinamento em serviço, com um registro provisório, para depois exercer a profissão com o registro definitivo. No Reino Unido, por exemplo, o programa de treinamento é projetado para dar experiência geral aos recém-formados, antes de escolher a área da medicina na qual deseja se especializar.

O debate está lançado! A academia, a sociedade, as instituições e o governo terão muito o que ouvir, conversar e ler sobre o assunto para encaminhar essa medida de governo da melhor forma possível. 


Referências: Ministério da Saúde. Portal da Saúde. Programa levará profissionais a regiões carentes. Disponível em: <http://portalsaude.saude.gov.br/portalsaude/noticia/11752/162/programa-levara-profissionais-a-regioes-carentes.html>. Acesso em 11/07/2013.
Ministério de Saúde. Portal da Saúde. Cursos de medicina terão mais vagas e segundo ciclo. Disponível em: <http://portalsaude.saude.gov.br/portalsaude/noticia/11753/162/cursos-de-medicina-terao-mais-vagas-e-segundo-ciclo.html>. Acesso em 11/07/2013.

Escrito por Rossana Mativi. 

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Debate com o professor Alcides Miranda no Programa Polêmica da Rádio Gaúcha


Diante da polêmica acerca do Programa Mais Médicos do Governo Federal e das demais mudanças na carreira da Medicina, o programa Polêmica da Rádio Gaúcha convidou o professor da Saúde Coletiva/UFRGS para participar de um debate com Paulo Argollo Mendes, presidente do SIMERS, e Claudio Balduíno Souto Franzen, tesoureiro do CREMERS e professor da Faculdade de Medicina da UFRGS.

Na tentativa de amenizar o problema da falta de médicos nas periferias das cidades e no interior dos estados o Governo Federal pretende aumentar em dois anos a duração do curso de Medicina, tempo no qual seria realizado um estágio remunerado no SUS, proposta que também daria ao jovem profissional uma vivência no SUS público.

Argollo acredita que o programa não passa de um processo demagógico com vistas para a eleição do próximo ano. Argumentou que se houvesse real interesse da Presidente em investir em saúde que ela não teria vetado a PEC 29, que aumentava o investimento em saúde de 4,4% para 10% do orçamento geral da União, ato feito antes das manifestações do último mês. Argollo defendeu que a vinda de médicos estrangeiros não resolve o problema da super lotação de hospitais e informou que em Porto Alegre há quatro vezes mais médicos que a média do Estado do RS. Argollo afirmou que 30% da população tem plano de saúde e que o setor público, para atender 70% da população, investe menos que os planos de saúde. O presidente do SIMERS disse ainda que a entidade defende como solução para a concentração de médicos na capital e a carência deles no interior a criação da carreira de médico, semelhante a que existe para juízes, na qual o profissional faz um concurso público e é alocado de acordo com a demanda.

Claudio Franzen, do CREMERS, concordou com o colega no que diz respeito à necessidade de uma carreira médica que estimule o profissional a trabalhar no SUS.  Afirmou ainda que hoje 60% dos médicos que se formam fazem residência atendendo fundamentalmente o SUS público.

O professor Alcides trouxe a questão do serviço civil, não necessariamente obrigatório, defendida por estudantes de Medicina já na década de 1980 como uma maneira de enfrentar a problemática da redistribuição da força de trabalho médica. Deixou claro, também, que quem financia a universidade pública é a população brasileira e que devem ser buscadas maneiras de viabilizar um sistema público de saúde – o que já teria sido deliberado por várias Conferências Nacionais de Saúde. Alcides disse ainda que o governo sempre foi inoperante com as corporações médicas que controlam as vagas de residência, cujas bolsas são na maioria públicas, mas que são controladas pela corporação, não pelas necessidades básicas da população, de maneira que a universidade forma profissionais para o mercado, não para a sociedade. Alcides não acha que seja necessária à importação de médicos, mas defende que sejam discutidas alternativas para a questão da distribuição desses profissionais, o que as corporações médicas se recusam a fazer, como quando se posicionaram contrárias ao PROVAB, que visa enviar para o interior o médico recém-formado.

Franzen disse que as corporações médicas se colocaram contra o bônus de 20% da nota que seria dado ao residente que optasse por determinadas áreas por essa medida ir contra a meritocracia, afinal o estudante que optasse a ir a determinado lugar estaria tendo vantagem em detrimento aquele que se preparasse para a seleção. Que se a questão fosse pagar uma dívida social que todo aquele que houvesse estudado em uma instituição pública desde sua infância deveria trabalhar para o governo.

Alcides esclareceu que não se trata de pagar uma dívida social, mas também que não se trata do outro extremo, de quem teve seus estudos sustentados pela população brasileira se formar e não fazer absolutamente nada para essa população. Para o médico, há que se discutir um meio termo para garantir que haja uma resposta social da universidade, não só da pública, mas também da privada e que é importante dizer que o sistema privado investe mais que o público porque existe a renúncia fiscal: a pessoa que paga o plano de saúde, deduz no imposto de renda e este deixa de entrar livre para financiar a rés (coisa) pública.
 - O sistema privado não faz a Atenção Primária porque não dá lucro, não faz os procedimentos de alto custo (transplante, hemodiálise) porque dá prejuízo, aí ele transfere para o SUS as medidas que têm maior impacto à longo prazo, mas que não dão lucro e as medidas que tem menor custo ficam num nicho de mercado mais lucrativo. Doença é usada como mercadoria e precisamos discutir qual é a lógica da produção social em saúde, quais são as nossas responsabilidades, não só transferir para governos, no plural, a responsabilidade, mas discutir quais são as responsabilidades quando nós viabilizamos.
Para Alcides a defesa de carreira única, de condições propícias de trabalho é uma unanimidade entre os médicos. A divergência ocorre em relação à ilusão liberal da Medicina, na qual os profissionais não querem ser escravos do Sistema Público, mas se colocam como escravos dos planos de saúde. O professor finaliza sua fala afirmando que a questão é que se a corporação deseja fazer parte do problema ou da solução:
 - Eu não discuto aqui a medida governamental em si, eu discuto a oportunidade para assumirmos uma perspectiva de trabalho vinculando essa alternativa com melhores condições de trabalho, com uma carreira, mas isso só é possível se nós formos protagonistas do SUS real, não se ficarmos esperando um SUS ideal para tomarmos essas iniciativas.

O programa realizou também uma enquete para saber a opinião dos ouvintes em relação ao tema:
Enquete - A partir de 2015, o curso de Medicina aumentaria de seis para oito anos. Durante dois anos os alunos teriam que atuar no SUS para obterem o diploma. Você concorda?

Sim - 75% Não – 25%

Escrito por Mariana Martins, redação do áudio por Rossana Mativi. 

terça-feira, 9 de julho de 2013

Debate com o professor Alcides Miranda no Programa Conversas Cruzadas da TV COM

Hoje à noite, o professor da Saúde Coletiva da UFRGS Alcides Miranda participou do programa Conversas Cruzadas da TVCOM, o qual objetivou a análise dos prós e contras do projeto governamental Programa Mais Médicos, que pretende ampliar a duração dos cursos de Medicina no Brasil de seis para oito anos. Os debatedores foram o presidente municipal do PT de Porto Alegre, Adeli Sell; a estudante de Medicina Pauline Elias Josende e a vice-presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), Maria Rita de Assis Brasil.

A participação do professor Alcides foi de fundamental importância para elucidar os fatos atuais que ocorrem na saúde pública e o contextualizar o histórico dessa proposta de governo. 

No início da fala do professor Alcides, ele coloca que a população brasileira paga, com os altos impostos cobrados pelo governo, a universidade pública e subsidia a privada, relata também que já participou de discussões das quais a universidade pública possui o comprometimento social e a responsabilidade civil e que o tema da proposta governamental foi discutido nas últimas três Conferências Nacionais de Saúde com ampla participação da população a qual deliberou a favor do serviço civil.

Informe-se, leia, estude, acompanhe as discussões, pois o assunto pode até ser novidade mas a ideia é discutida, conforme o professor Alcides, há décadas!